tatuagem
sobre
muro
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Marcas na superfície-limite do corpo coletivo.
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Me interesso por zonas-limites e interseções entre linguagens, e vejo no corpo um campo onde esses desdobramentos podem ocorrer de forma única. E nessa investigação me ocorreu o desenvolvimento de uma técnica que pudesse estreitar o paralelo entre o corpo individual e o corpo coletivo, através das marcas que neles se inserem.
A pele é a nossa fronteira mais íntima, aquela linha que divide o eu dos outros e por isso se torna a plataforma comunicativa mais básica aos humanos.
Da mesma forma muros e paredes de uma construção são as arestas que definem os limites daquele espaço, delimitando o que é público e o que é privado, o dentro e o fora, o nosso e o dos outros, noções que se tornaram intrínsecas a nossa construção social e cultural.
Tatuagem é a forma de se deixar marcas no corpo. Sinais indeléveis gravados com agulha e tinta sob a pele, que depois de ser ferida, cicatriza e se une às suas novas cores, deixando visível os sinais de sua transformação. Marcas de um indivíduo e de sua cultura, que permanecem através dos tempos,
Sobre o muro procedo da mesma maneira: abro uma ferida em sua materialidade criando linhas na superfície áspera do cimento.
Um baixo relevo traçado com uma ponta de aço, em sucessivas batidas, até que dessas rupturas se forme a imagem.
Adiciono o pigmento na mistura de cimento, e com essa massa “cicatrizo” o muro.
Tapo suas feridas e reintegrando superfície, que já não é a mesma.
Após o ritual está ali gravado, visível, indelével na carne daquela construção, o sinal proposto ao espaço.